Ele
encarou-a com neutralidade. Pairava certo orgulho ao seu redor como se ele
fosse mais importante do que todo o lixo que o engolia. Trazia um sorriso
irônico no rosto de pano de uma felicidade falsa. E tinha marcas de uma vida
longa e sofrida.
Ela olhou-o
a princípio com indiferença como se ele fosse só mais um lixo em todo aquele
monte. Mas havia algo nele que a incomodou e fez com que ela olhasse de novo, e
de novo. Parecia fazê-la acreditar que ele não era tão insignificante como
aparentava.
Mabel se
aproximou tropeçando em algumas sucatas e parou relutante. Ele possuía um
buraco no meio da testa. Lembrou-se de seu irmão depois dele ter levado aquele
tiro. Lembrou-se do som da arma disparando contra o menino de seis anos. Lembrou-se
dele caindo no chão imóvel como um boneco.
Mas era
apenas um boneco. Com seu pano já encardido, um dos olhos arrancados, a roupa
rasgada. Não era um boneco qualquer. Era um boneco abandonado que agora se
perdera em todo aquele monte de lixo. Jamais voltaria ser o que era antes. Não
existia mais vida dentro dele.
Porém, não
era isso o que ele mostrava. O boneco estava dizendo para ela que não era o
fim. Mabel viu esperança nele, viu seu próprio irmão. Ela o carregou como fazia
antes e acariciou seus cabelos.
-- Esta tudo
bem agora, Lu. Vou te levar para casa.
O boneco
fecha seu único olho e sorri.